terça-feira, 21 de fevereiro de 2023
Itinerários portugueses 1
domingo, 2 de janeiro de 2022
O homem e o gato
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
A calculadora do tempo
Segundo a calculadora do tempo no dia de hoje, passaram os segundos, minutos, horas, dias, semanas mais dias, meses e anos que se segue:
Nestes tempos atribulados de pandemia em que continua gente a desaparecer quase sem aviso e em que, por vezes, é um estranho, inconsciente e egoísta desânimo que nos espreita a toda a hora, é na intemporalidade da música que gosto de me refugiar. E se há gente cuja escolha musical para o derradeiro momento já está feita; este instrumental poderia ser sem dúvida a minha última vontade.
Tara do álbum Avalon, dos Roxy Music.
quarta-feira, 28 de julho de 2021
Nariz de mulher, focinho de cão, cu de gente, de David Teles Ferreira
capítulo IX - pág. 35 - Nariz de mulher, focinho de cão, cu de gente, de David Teles Ferreira
"Fundir o universo mágico à realidade, mostrando elementos irreais ou estranhos como algo habitual e corriqueiro. Além desta característica, o realismo mágico apresenta os elementos mágicos de forma intuitiva (sem explicação)" - Infoescola.com
domingo, 13 de junho de 2021
Aimez, aimez; tout le reste n'est rien (La Fontaine)
Mais (re)conhecido pelas fábulas do que pela poesia; Jean de La Fontaine.
Élogue de l'amour
Belle Psyché, soumettez-lui votre âme.
Les autres dieux à ce dieu font la cour,
Et leur pouvoir est moins doux que sa flamme.
Des jeunes coeurs c'est le suprême bien
Aimez, aimez ; tout le reste n'est rien.
Sans cet Amour, tant d'objets ravissants,
Lambris dorés, bois, jardins, et fontaines,
N'ont point d'appâts qui ne soient languissants,
Et leurs plaisirs sont moins doux que ses peines.
Des jeunes coeurs c'est le suprême bien
Aimez, aimez ; tout le reste n'est rien.
domingo, 21 de março de 2021
O apanhador de desperdícios, por Manoel de Barros
De Manoel de Barros para o Dia Mundial da poesia.
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
Também não sei
"Qualquer ser humano, por mais brilhante e instruído, não sabe a maioria das coisas. Dizer “não sei” devia, por isso, ser tão natural como tossir.
Não quero com isto dizer que somos todos ignorantes por igual; nem que o facto de ninguém saber tudo nos exime de dever saber certas coisas. O meu ponto não é um de desvalorização do conhecimento, ou de apologia da ignorância. É precisamente o oposto: acho que quando omitimos a nossa ignorância, fingindo domínio de um tema, estamos a desrespeitar quem nos ouve e confia em nós; a desrespeitar quem verdadeiramente trabalhou para adquirir conhecimento nessa área, muitas vezes com grande custo pessoal; e a desrespeitar a própria busca pelo conhecimento e pela verdade.
A obsessão em omitir o “não sei” é uma obsessão perniciosa, pouco ética, criadora de fragilidades e inseguranças, de vergonhas e obsessões. A possibilidade de obter conhecimento em três segundos no Google, ao invés de tornar mais banal essa confissão, fez de nós autómatos do conhecimento: ao entrarmos em contato com um termo desconhecido durante uma conversa, a nossa mão dirige-se ao telemóvel, os nosso dedos ordenam uma pesquisa, e ainda o nosso interlocutor não se calou e já nós aprendemos o suficiente para podermos tecer de seguida uma resposta suficientemente credível para não passarmos por ignorantes"
Excerto do artigo de João Marecos.
https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/a-extraordinaria-beleza-de-dizer-nao-sei
quinta-feira, 30 de julho de 2020
Tempo
Mesmo que eu queira mudar
De mim não consigo fugir
Sou feito do vento que sopra devagar
E do tempo que sobrar
E do tempo que sobrar
Se o segredo for deixar partir
No sereno do areal
Antes que o apego se apegue ainda mais
Deixo ao tempo a solução
Deixo ao tempo a solução
E se encontrares por aí
Quem te faça ser melhor mulher
Aproveita para ser feliz
Aproveita para ser feliz
Aproveita para ser feliz
Aproveita
E se encontrares por aí
Quem te faça ser melhor mulher
Aproveita para ser feliz
Aproveita para ser feliz
Aproveita para ser feliz
Aproveita
quarta-feira, 15 de julho de 2020
Portugal em números, ou seja.
Uma notícia desta manhã no Sapo dava conta que em 2100, ou seja, daqui a 80 anos, ou seja, quando eu tiver os meus imortais 134 anos, vamos (portugueses) ficar reduzidos, mais milhar menos milhar, a 5 000 000 (milhões) de habitantes!
Fonix! - Pensei. Passar de 10 vírgula qualquer coisa para 5 milhões, é muito milhão!
É muita gente a morrer, é muita criancinha a não nascer daqui até lá.
E é sem dúvida, muita gente a preferir ter um cãozinho ou um gatinho em vez de querer repovoar o país.
Também... diga-se de passagem que o planeta, ou seja, partes dele, está a pôr-se a jeito para que assim seja, ou seja, estamos a falar da ausência de perspectivas de futuro e o futuro do trabalho que será para muitos habitantes cada vez mais uma miragem. E quando os projectos de vida não se vislumbram exequíveis, ou seja, dificilmente viáveis, os habitantes dum país retraem-se.
E dá nisto! ... 5 milhões a menos... Caramba! 5... 5 ... 5 ... 5 ... https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/portugal-podera-chegar-a-2100-com-cinco-milhoes-de-habitantes-diz-estudo
quarta-feira, 3 de junho de 2020
O bailado da mosca
E eis que estava eu, deitava, assistindo ao bailado da mosca.
Uma mosca qualquer, diga-se de "voagem". Embora lhes chamem moscas domésticas ou moscas-de-casa, eu nada fiz, faço ou farei para que elas sejam bem-vindas no meu espaço.
No entanto, igual a todas as moscas chatas que existem por esse mundo fora e que entram nas nossas casas sem autorização, de olhos fixos na dança rodopiante da mosca, continuei a divagar.
Entram, mas nem sempre se dignam partir pacificamente ou, quando o fazem, vão à custa de muita mão de obra de mãos. Enxota dali, expulsa dacolá.
Por vezes a mão acerta noutro alvo que não a mosca e quando demos por ela, já espetámos um estalo, sem querer, na pessoa que está ao lado. Azar!...
Do mata-moscas ao spray insecticida, passando pelos pegajosos rolinhos de veneno, sem dúvida que a maior das invenções para exterminar as moscas e os respectivos parentes, foi a raqueta.
Aquela que em tudo se parece com uma raqueta de ténis, mas com a diferença de que é recarregável numa tomada eléctrica e graças ao seu super poder electrocutante (ou electrocutor), a qualquer hora do dia ou da noite, consegue-se respirar o cheiro fétido de churrasco de mosca ou de qualquer outro membro da família Muscidae. Os mesmos que estupidamente insistem em aparecer nos contextos menos recomendáveis, como por exemplo, numa noite quente de verão, quando o sono quer transportar-nos para sonhos belos e eróticos(?!), onde não entrem melgas ou moscas rodopiando os nossos ouvidos. ZZZzzzzzzzzzzzzz...
quarta-feira, 17 de abril de 2019
Papoilas

Pintada de papoilas, a seara verde cobre-se duma quietude que nos enche a alma e a vista.
Comme Un P'tit coquelicot
Le myosotis, et puis la rose,
Ce sont des fleurs qui disent quelque chose !
Mais pour aimer les coquelicots
Et n'aimer que ça... faut être idiot!
(...)
Marcel Mouloudji (cantor, compositor e ator francês, 1922-1994)
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
A espera
quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
A falecida
A Clareira, 28 de dezembro de 2057
Caros vivos.
Faleci 86 anos depois de ter nascido, mais precisamente em 2052.
Passaram-se cinco após esse fatídico dia em que, eu, sentada à lareira, caí literalmente para o lado.
A pedido, levaram-me para a cama onde me recordo de ter fechado os olhos e acordar na manhã seguinte tal e qual assim: enregelada de morte!
"Pronto. Foi desta que morri!"- pensei.
E deixei-me estar à espera que os vivos tomassem as providências habituais nestas circunstâncias.
Não quis saber de mais nada. Se diziam mal de mim. Se choravam. Se sentiam pena. Se iam guerrear por causa de bens... Não queria saber.
Estava mortinha e nada mais importava, a não ser o meu Antero que chorava copiosamente a minha partida do mundo terreno. Como eu gostava (por amor, claro) do pobre coitado!
Já caquético e surdo que nem uma porta, era ao lado dele que eu passava os dias e as noites. Às vezes ainda tínhamos forças e ralhávamos como dois miúdos, mas éramos tão unidos, tão cúmplices que já não passávamos um sem o outro (coisas de velhos, sabem).
Neste preciso momento estou num local agradável com árvores apenas, e muita luz.
Antes, recordo-me de ter entrado num túnel escuro com várias saídas. Todas elas
davam para lugares esconsos, escuros, húmidos, de cheiros intragáveis... E só depois se chegava às clareiras.
Quando aqui cheguei, não encontrei ninguém que me esclarecesse sobre este lugar.
Fiquei literalmente, aborrecida de morte, pois não era assim que se recebiam os defuntos.
Porra! Ao menos um cartãozinho ou um bolinho de boas vindas.
Aquelas histórias que contavam sobre o céu, o inferno e o purgatório sempre me pareceram surreais.
"Precisava morrer para saber toda a verdade", pensava eu em vida.
E na verdade, as minhas suspeitas confirmaram-se; não existia céu, inferno ou purgatório.
No caminho até chegar a esta clareira, só encontrei gente com sorrisos escancarados na cara. Presumi que seria de felicidade por estarem ali sem preocupações e sem o tempo contado, fazendo tudo o que lhes dava na real gana.
Parei para perguntar se era aquele o único lugar para onde eram (re)encaminhados os mortos...
Abeirou-se, então, de mim um hippie que logo me ofereceu uma passa do seu cachimbo e me esclareceu sobre as clareiras.
O que variava de clareira para clareira era basicamente o tipo de vegetação. O som dos pássaros fazia-se ouvir uma vez no ano eterno e por isso todos aproveitavam para festejar o acontecimento. Foram estas as explicações do hippie, que me desejou uma boa estadia, oferecendo-me de novo uma passa que eu, educadamente, recusei (já que nunca tinha fumada em vida, também não seria em morta que ficaria com o vício).
Esta história termina com a chegada do meu Antero (todos os dias, ia espreitar quem eram os novos inquilinos das clareiras).
No sexto ano da minha vida celestial recebo, enfim, de braços abertos, o meu velho e inseparável Antero.
Estava finalmente no céu!
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
Possessivos
Do meu ao teu. Do meu ao nosso.
domingo, 13 de novembro de 2016
Renascer
E renasce-se para se ser a mesma pessoa, apenas com um colorido ligeiramente diferente e poder pintar com as cores do arco íris, um futuro que queremos melhor. Foi assim que se sentiu o Relógio de Corda há dois anos.
(Edição de Autor – 1ª Edição – junho 2016)
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Da oração ao sujeito e predicado que sou
Hoje refleti sobre isto. Coisas da profissão, pensei.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
A boneca
Metro e vinte de altura, cabelo alaranjado, olhos esbugalhados, lábios carnudos.Esbelta (linda para quem apreciar o estilo).
Jaz a boneca no recreio.
Desmembrada. Maltratada.Violentada.
Pernas e braços largados ao Deus dará. Mete dó.
Jaz a boneca no recreio.
De plástico. Assim é o seu corpo, agora molhado pela chuva que cai incessantemente.
Nua ou vestida, outras vezes semi nua.
Com ela brincam ao faz-de-conta.
Com ela simulam ter sexo.
Mas...
Um dia...
Levaram-na pela mão. Um cortejo de miúdos a acompanhavam.
Algo de mau aconteceu. Pensei.
Jaz a boneca, no recreio, nas mãos dos petizes.
Numa bela manhã, porém, morreu.
O funeral lhe fizeram. Enterraram-na num chão de gravilha.
Apenas com a cabeça de fora, rezaram à sua volta. Fingiram que choravam.
Outro dia chegou...
A boneca ressuscitou.
E novamente a completaram.
Calças, sapatos, camisola, pernas e braços no sítio certo.
Jaz Xana, a boneca do recreio, numa escola onde se passa tudo isto, e muito mais!
sexta-feira, 15 de abril de 2016
tempo e silêncio
Porque as palavras se gastaram. Porque as palavras se esvaíram por outros meios. Porque as palavras encontraram outros destinatários. Porque... porque...
domingo, 3 de abril de 2016
------A--L-------B--E---R---T-O----
«O tempo engoliu aquilo que não teve força para se eternizar»
Al Berto, Diários 21/6/94terça-feira, 15 de março de 2016
Contador de estrelas
Chamava-se Benjamim, apenas.
Fosse como fosse, era assim que o senhor Benjamim gostava de pensar; que a sua Estrela seria mais uma no meio de muitas outras.
Mas a Estrela era igualmente uma mulher entre as mulheres; das muitas que teriam passado pelos setenta e muitos anos bem vividos deste homem. Fora ela, todavia, a única mulher, alma-quase-gémea, que lhe sossegara, numa fase já madura da vida, o coração das desgastantes paixões, aventuras e emoções fortes.
Todas as noites era vê-lo sentado, estivesse frio ou calor, a admirá-lo. Por vezes não havia nada para ver, mas Benjamim sabia de cor onde estavam as constelações, os planetas,...
Quem o avistou na manhã seguinte, debruçado na velha cadeira, ao lado de um pedaço de papel humedecido pela maresia, imediatamente correu a anunciar na aldeia que o "Contador de estrelas" se tinha apagado.


