quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Também não sei

"Qualquer ser humano, por mais brilhante e instruído, não sabe a maioria das coisas. Dizer “não sei” devia, por isso, ser tão natural como tossir.

Não quero com isto dizer que somos todos ignorantes por igual; nem que o facto de ninguém saber tudo nos exime de dever saber certas coisas. O meu ponto não é um de desvalorização do conhecimento, ou de apologia da ignorância. É precisamente o oposto: acho que quando omitimos a nossa ignorância, fingindo domínio de um tema, estamos a desrespeitar quem nos ouve e confia em nós; a desrespeitar quem verdadeiramente trabalhou para adquirir conhecimento nessa área, muitas vezes com grande custo pessoal; e a desrespeitar a própria busca pelo conhecimento e pela verdade.

A obsessão em omitir o “não sei” é uma obsessão perniciosa, pouco ética, criadora de fragilidades e inseguranças, de vergonhas e obsessões. A possibilidade de obter conhecimento em três segundos no Google, ao invés de tornar mais banal essa confissão, fez de nós autómatos do conhecimento: ao entrarmos em contato com um termo desconhecido durante uma conversa, a nossa mão dirige-se ao telemóvel, os nosso dedos ordenam uma pesquisa, e ainda o nosso interlocutor não se calou e já nós aprendemos o suficiente para podermos tecer de seguida uma resposta suficientemente credível para não passarmos por ignorantes" 

Excerto do artigo de João Marecos.

 https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/a-extraordinaria-beleza-de-dizer-nao-sei

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