O que fomos dizendo nos últimos tempos, dissemo-lo no mais absurdo dos silêncios; daqueles silêncios que nos pesam toneladas na alma, que nos sufocam, e nos tornam seres infelizes e incompletos e insatisfeitos.
Porque as palavras se gastaram. Porque as palavras se esvaíram por outros meios. Porque as palavras encontraram outros destinatários. Porque... porque...
Porque tinha que ser assim?! Porque...
O nosso tempo esgotou-se. As palavras esgotaram-se.
Findo mais um dia, com a solidão como companhia, lá estava ele de olhos postos no céu.
Não. Não era um aspirante a astronauta nem um astrónomo autodidata.
Chamava-se Benjamim, apenas.
Ficara
assim, uma espécie de lunático noctívago, desde a partida da companheira. Quis a maldita doença que a infeliz se juntasse antes do tempo às outras estrelas. Porém, um consolo maior reconfortava a sua alma; Benjamim acreditava na existência de um paraíso cintilante. Segundo ele, o lugar para onde deveriam seguir todos os que Amam e todos os que são Amados, sem exceção.
Fosse como fosse, era assim que o senhor Benjamim gostava de pensar; que a sua Estrela seria mais uma no meio de muitas outras.
Mas a Estrela era igualmente uma mulher entre as mulheres; das muitas que teriam passado pelos setenta e muitos anos bem vividos deste homem. Fora ela, todavia, a única mulher, alma-quase-gémea, que lhe sossegara, numa fase já madura da vida, o coração das desgastantes paixões, aventuras e emoções fortes.
Benjamim via no firmamento
aquilo que mais ninguém conseguia perscrutar.
Todas as noites era vê-lo sentado, estivesse frio ou calor, a
admirá-lo. Por vezes não havia nada para ver, mas Benjamim sabia de cor onde estavam as constelações, os planetas,...
E repetia este ritual noite após noite. Pegava na velha cadeira de madeira "traçada" pelo caruncho, num lápis de carpinteiro afiado em sucessivos
golpes desajeitados de canivete, num pedaço de papel amarrotado e sujo, das sacas de
farinha dos animais, e escrevia. Escrevia todas as noites, versos e mais versos.
Fê-lo até ao dia em que o céu se apagou, e as estrelas deixaram de lhe brilhar.
Quem o avistou na manhã seguinte, debruçado na velha cadeira, ao lado de um pedaço de papel humedecido pela maresia, imediatamente correu a anunciar na aldeia que o "Contador de estrelas" se tinha apagado.
Concentro em mim todas as coisas da terra e da vida.
Sou um caminho inacessível entre vales.
Sou um atalho da natureza humana; um miradouro para contemplação, a troco de alguns momentos de prazer. Sou árvore. Sou planta rara; por vezes desprotegida. Sou gato e sou pássaro em simultâneo.
Sou todas as partes do corpo humano.
Sou ventre que deu abrigo.
Sou prancha ondulante; porém, é assustadora a imensidão do mar. Sou atalho de teclado. Sou mais uma foto, uma lembrança.
Sou mais uma mulher entre outras tantas. Sou tudo e nunca serei nada. Mas sou Mulher!
Com algumas (poucas) alterações, reedito um texto alusivo ao dia, escrito em 2011. E agora, com a vossa licença, vou dar corda ao relógio. Malgré le temps, tenham um resto de bom domingo!