"Em águas de bacalhau", é o termo adequado para este post começado no dia 1 de Agosto e que teima em não querer sair do rascunho. Vamos lá a ver se é desta, visto que ontem, a tecnologia, me pregou uma partida...
Gostava de vos falar sobre Educação, mais concretamente sobre as últimas polémicas à volta dos temas:
encerramento de escolas e chumbos de alunos.
Os discursos dos governantes nem sempre são o retrato da realidade; falam, discursam e têm uma conversa que é para mim,
mais palha do que essência. Por esta razão, como cidadã interveniente, sinto-me no direito de contestar e discordar relativamente a políticas e ideias, veiculadas por esta gente que decide dentro dos gabinetes, sem qualquer conhecimento daquilo que realmente se passa no terreno.
Falando de
palha...antigamente, era a comida com que se alimentavam os burros e se, eu sou uma das muitas pessoas deste país que
Eles querem incluir nesta espécie, então, prefiro comer algo bem mais saboroso do que palha, que é, alimento seco e cujas vitaminas já se evaporaram com o processo de secagem (ou não?!...Mentes esclarecidas desse lado!Peço-vos uma achega sobre esta fuga de vitaminas...).
Dêem-me, antes, espinafres, agriões, couves, cenouras, beterraba ou qualquer coisinha mais fresquinha que a burrinha cá da "
Parvolândia da Serra", prefere, e, agradece.
Aliás, o burro, era animal que não faltava por aqui e eu gostava bem de andar no burro que o meu avô tinha. Lembro-me perfeitamente deste aviso que tantas vezes me fazia:
"Não passes por detrás do burro que ele dá-te um coice!". E eu, nunca passava.
Bem... adiante.
Encerramento de escolas, ponto um.
Nem contra nem a favor. Depende... Sei que há escolas (muitas) num estado deplorável, sem o mínimo de condições à luz das comodidades que hoje se exigem para o bem-estar e desenvolvimento da criança.
A taxa da natalidade continua a decrescer e isso é cada vez mais notório nas escolas nacionais; um reduzido número de crianças inviabiliza certo tipo de tarefas e noutros casos, são 4 níveis de escolaridade numa só sala, que acaba por se revelar, pedagogicamente desgastante para o professor e pouco proveitoso para o aluno. Tudo é justificável e compreensível, mas não haveria outra forma de reorganizar a rede escolar?
Lá dos gabinetes e das salas de imprensa, dizem-nos que as crianças serão mais bem acompanhadas, terão novas oportunidades de aprendizagem e outras mais-valias na escola de acolhimento. A tal conversa seca, estruturada à custa de alguma palha, porque quem anda no terreno e dá o corpo ao manifesto, sabe que isto não é tão verdade como nos querem fazer crer. Nem todas as escolas, são os tais Centros Educativos que o Governo tanto publicita. Por vezes, nestes
aglomerados educativos, encontramos mais indisciplina, tanto ou mais insucesso escolar, meios tecnológicos desactualizados, avariados ou a funcionarem muito mal e o mais grave; ao aumento do número de crianças, nem sempre corresponde a colocação de mais recursos humanos.
E sendo assim, transfira-se a criançada toda numa de
" TODOS AO MOLHO E FÉ EM DEUS" porque entre
" MORTOS E FERIDOS, ALGUÉM HÁ-DE ESCAPAR"!
Em suma, as turmas aumentam mas o número de professores diminui. O sistema continua a não dar resposta com a colocação de mais profissionais, nomeadamente, para apoiar milhares de crianças com dificuldades de aprendizagem e cujo número, aumenta anualmente de forma assustadora.
Os chumbos, ponto dois.
A ministra da educação, Isabel Alçada, senhora que eu muito admiro enquanto escritora, esteve ocupada durante as férias do Verão, a terminar uma nova saga da já famosa colectânea " Uma aventura...".
Desta vez, acredito que esta nova saga, terá um enorme
insucesso a avaliar pelo título
" Quanto vale um chumbo no meu país?"
Confesso que este atentado descarado e continuado ao ensino público em Portugal, está a deixar-me com os nervos à flor da pele. A única forma de eu não enlouquecer já, ou nos próximos tempos com estas novas orientações, é não remeter-me ao silêncio e dizer o que me vai na alma.
Vejamos então o que diz a titular da pasta educativa nesta matéria:
1
Não tem contribuído para a qualidade do sistema, porque o mesmo sistema/ministério da educação insiste em poupar na colocação de professores de apoio (socio-educativo) e ensino especial.
O sistema não coloca também, psicólogos em número suficiente nos Agrupamentos, onde existe apenas um, para servir uma população de milhar e meio de alunos, do 1º ao 12º ano. Outros técnicos... terapeutas da fala; nem se "fala"!!!... Logo, no meio desta escassez de recursos humanos especializados, os penalizados são por norma, sempre os mesmos: os alunos com problemas de aprendizagem e de comportamento.
2
Também eu queria que os alunos se dedicassem mais intensamente a obter bons resultados. Quem não quer?!...Parece-me que neste ponto, estamos todos de acordo. No entanto, fico com a sensação de que, este, é um desejo solitário. O (eterno) problema da falta de TEMPO e de acompanhamento dos encarregados de educação para com os seus educandos, é um "mal" crónico. Incutir valores, regras e hábitos de trabalho, é tarefa trabalhosa e, ocupa o TEMPO que muitos não têm.
A maioria da criançada não tem brio e nem se esforça para isso, porque até sabe que não irá chumbar e nem será penalizada lá em casa pela sua falta de empenho ou má criação na escola.
Perante tanto e tão pouco, digam-me lá, se não é ingrata, a vida de um professor?!
3
Pois precisamos! Mas antes, devíamos olhar para o nosso.
Mas enquanto não olhamos com olhos de ver cá para dentro, vamos lá espreitar o que os outros países como a Finlândia, a Noruega, a Suécia andam a fazer de tão bom que todos querem imitar.
O primeiro, a Finlândia, considerado de uns tempos para cá, o novo "El DORADO" pedagógico, continua a ser a referência que muitos governos querem seguir, embora alguns, sigam apenas, aquilo que lhes convém.
Aliás, os governantes portugueses têm esta mania insistentemente irritante de quererem comparar e importar os modelos educativos dos países nórdicos. Desde quando, os factores culturais, a formação escolar da nossa população, a nossa economia, etc, etc, podem ser comparáveis com um povo do Norte da Europa?
Este artigo de Henri Charpentier ("Systèmes scolaires et équité sociale" de 2007), ajuda-nos a perceber o sucesso da Finlândia:
(...) Por um lado, a Finlândia é um país que cuida da sua escola, dotada de estabelecimentos relativamente de pequena dimensão (o número médio de alunos por estabelecimento é de 167 contra 512 em França). Refeições quentes, transportes e material escolar gratuitos, estrutura cuidada, tudo está feito para prestar um acolhimento, o melhor possível aos alunos.
Essencialmente, parece-me que este sucesso se deve atribuir a uma filosofia educativa, como aliás, em todos os países escandinavos (Suécia, Noruega, Dinamarca).
Estes países foram os primeiros a instaurar uma verdadeira escolaridade única (dos 7 aos 16 anos), sem hierarquias, sem fileiras, sem avaliação penalizadora ou problema de «transição para o ano seguinte». Os percursos dos alunos são invidualizados.
Na Finlândia, a máxima é «cada aluno é importante». Quando surgem dificuldades, o aluno passa a ser acompanhado por uma equipa de professores. A diversidade dos ritmos das crianças é a maior preocupação e o "chumbo" é excluído, salvo em caso excepcional (...).
Os métodos pedagógicos privilegiam a actividade dos alunos e a cooperação (famílias-escolas, professores de várias disciplinas, entreajuda entre alunos de diferentes idades). De referir que, nestes sistemas, os estabelecimentos escolares beneficiam de uma grande autonomia, e que a «obsessão» de cumprir o programa prescrito pelo ministério é algo desconhecido na Finlândia"
Gastos com a educação: os "mãos largas" e os "forretas"
A polémica gerada em torno do "chumbo", não é exclusivamente nossa. Segundo as leituras que fiz, os franceses iniciaram-na antes de nós e, para que conste, a França é tida como a campeã do chumbo, na Europa.
Contra o chumbo escolar...
Alguns "especialistas" nesta matéria (gostava de saber o que se entende aqui por "especialistas"- serão pedagogos ou economistas?), defendem as suas posições contra o chumbo, alegando que este, se revela ineficaz, penalizador, caro e injusto. Na França, um aluno que reprova, custa à nação cerca de 6100 €, como tal, "abolir" o chumbo, permitirá uma melhor gestão do fluxo dos alunos no sistema educativo, e logo, a tal economia de custos.
A favor do chumbo escolar...
Aos mais conservadores, resta-lhes a divulgação destas teorias:
"...passar para os anos seguintes, alunos demasiado fracos, é destruí-los psicologicamente..." ou ainda " ...porquê então suprimir os chumbos quando não se coloca na prática qualquer dispositivo pedagógico complementar?" e para terminar, esta:
"Ninguém quererá saber quanto custarão à sociedade todos estes maus aprendizes que se encontram no ensino e sairão do sistema sem qualificação"
In Sciences Humaines.com
Nota) A tradução foi minha, por isso, desculpem qualquer gralha.
Espero ter contribuído para a vossa reflexão e perante o exposto, não restam dúvidas de que, a educação, a saúde, a cultura... lutam ingloriamente contra um demónio chamado corte orçamental.
Daqui por uns bons anos, veremos o resultado de tudo isto.
Quando isso acontecer, é possível que eu já não esteja cá para ver... E ainda bem!